(o que aconteceu,
Charles?)
Caindo,
caindo, caindo, o avião não parava de cair e Charles estava lendo as aventuras
de Alice no País das Maravilhas, edição especial com fotos do autor nas páginas
finais, ele pensou que aquele bem poderia ser ele, se tivesse nascido a quase
duzentos anos atrás
- Pobre
diabo...- pensou consigo mesmo – uma grande desilusão amorosa e mais de um
século de pessoas par lhe julgarem mal...- teria sido conveniente o avião cair
logo no primeiro capítulo do livro e não no fim, ele teria a mesma sensação da
Alice
-“ E
como vão me achar corajoso lá em casa” pensou ele, “Depois dessa eu poderia
cair do telhado e não dar um piu, mas se eu caísse, eu certamente morreria,
pois eu moro no décimo oitavo andar de um prédio com mais de trinta”- assim
como ele sabia que chorar e se lamentar como as pessoas ao seu redou não
adiantaria de nada, se o avião estava caindo do jeito que estava não haveria
sobreviventes e ele se importava tanto quanto quando diziam que Charles
Lutwidge Dodosgon era pedófilo, ou quando se odiavam pedófilos. Mas que ali
logo a frente havia outro ser humano que não esboçava qualquer reação de
espanto ou desespero, Charles notou que este, assim como ele e ao contrário dos
outros estava calmo a ler um livro, este por acaso era Alice através do
Espelho, e ainda mais, o homem parecia rir, parecia não, ele estava rindo a
beça, como se o livro fosse engraçado e não trágico, Charles nunca o tinha
lido, mas sabia que era trágico por que na infância cansou de ver seu pai com
os olhos cheios d’água por ler as primeiras estrofes do poema introdutório,
Charles então se esquivou flutuando entre os bancos, pois a queda lhe dá
ausência de gravidade, era um paradoxo mas era a lei da física assim como é lei
não cobiçar os filhos do próximo, e assim foi chegando perto do sujeito, cujo o
riso fora confundido por ele com o lamento dos outros
- Com
licença senhor, não pude deixar de notar que está se divertindo a beça com a
leitura
-Acha q
é o único carrolliano fanático nesse avião Charles?
- Como
sabe o meu nome?
- Ele
me falou de você
-Ele
quem?
- Você
sabe muito bem quem
-Se
você já sabe quem eu sou então isso dispensa a apresentação da minha parte
- Sou
Ronald Liddell- e estendeu a mão, Charles sentiu um desânimo desumano, por
instante quis acreditar na magia mas tudo fora por água a baixo com aquele
sobrenome maldito, o fato é que sabia ele que sua empresa fechara um negócio
com a família Liddell verão passado, eles tinham vinícolas fartas e foi seu
chefe quem sentou a mesa que pertenceu ao reitor.
-
Liddell... Desculpe-me, mas esse sobrenome me soa como o arranho de uma lousa
em meus ouvidos.
-Não
vou te tratar como um monstro meu amigo, o único monstro aqui sou eu, fui
confundido com um deles e agora talvez seja o responsável pelo seu tormento
- Que
tormento?
-O
vírus, ele se modifica, só passa a agir mesmo em nosso corpo se fazemos.
-Fazemos
o que?
-Você
sabe muito bem o que
-Desculpe,
mas deve estar me confundindo com algum aidético.
-Eu tbm
falo com almas do espelho assim como tem gente que fala pelo Skype no
computador do serviço. Eu fui confundido com um deles, se não era para ela se
chamar Alice, e você e não estaria nesse avião agora. – Charles lembrou de tudo
o que Francis lhe dissera sobre o ritual em Oxford, dissera aos pais que não se
lembrava de nada que havia acontecido durante o tempo em que ficara
desaparecida, mas o fato é que ela havia sido levada para Daresbury, a fim que
se fizessem o tal ritual, que lhe passaria o vírus da progenitora, nada que
fosse revelado em algum teste, algo singelo, sútil e discreto como uma
colherada, ou uma coelhada.
-Mas
depois daquilo ela começou a ver Coelhos Brancos e a ver seu conjugue, não
você.
-Se
tivesse sido o certo ela seria normal?
-Não
teria tido a conduta que teve quando foi hospitalizada, isso daria uma dor de
cabeça...
- isso
não importa, por isso que ela não é normal, ela não fala muito na presença
outras pessoas, só abriu a boca para conversar como uma criança quando esteve
sozinha comigo, isso por que alguém deve ter falado com ela, isso antes, eu
tenho alguma coisa a ver com tudo isso? Você conhece meu pai Hector, Hector
Villhens? Ele tbm falou de vírus e essas coisas...
-Charles!-
interrompeu Ronald com um dedo em seus lábios – o Plano era reproduzir a
felicidade dos dois na terra para terem um modelo vivo, mas isso não tinha como
dar certo pois ela, digo, a primeira Francis era uma fada não por causa do nome
mas por conta de ter nascido uma fada bastarda
-Mas
Francis Ladinne é uma fada bastarda, o pai dela é o sócio do senhor Laddine
-Convenções
Charles, a mãe dela tbm é uma carrolliana fanática, vc não sabe disso mas é.
ela planejou tudo mas não ia adiantar de nada, não naquele meio, eles não são
sensatos em achar que dá pra reproduzir Dodos em ovos de galinha, eu menti
minha identidade propositalmente, ou você acha que isso é suficiente para
acontecer...
-Mas eu
teria de ser da família.
- Mas
você é, a senhora Laddine é sua tia, ela foi dada como morta quando nasceu e
vendida para uma família de ingleses- Bem que a senhora Ladine era lhe
familiar, e seu pai sempre havia dito sobre uma irmã que nascera morta mas que
ele sempre acreditou estar viva.
-Então
me diz por que eu sou o único nessa historia que não escuto vozes?- o avião
finalmente caiu no pântano.