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terça-feira, 26 de julho de 2016

Parte II

Aqui está a segunda parte e graças a minha maravilhosa  mania de enrolar, garanto você até a terceira (ps: naõ sei quantas partes terão mas a "segunda fase" referida neste capítulo começa a partir da quarta parte)

Capítulo 2 Jorge


Matt Raymond chegara à conclusão de que não fora uma quadrilha especializada em roubos de peças raras, ou melhor, não foi com o objetivo de traficar a peça que ela foi furtada para aquele fim.

-Vamos ter que cortar algumas partes, querida
-Eu não sou sua querida- disse May enquanto mordia seu sanduíche de presunto
-O que é door?
-Como assim você está na Inglaterra e não sabe falar inglês?
-Isso é uma longa história...
-Eu não tenho pressa
-Tem sim, o eclipse é daqui a menos de uma semana e temos de ter terminado isso até lá
-Algo me diz que não estaremos livres dessa missão assim que ela acabar
-Quer dizer que terá outra
-Não, quero dizer que ela não vai terminar tão cedo, de que isso ainda vai longe
-Então não vamos perder tempo e vamos atrás das respostas... Qual foi o último enigma?
-Door
-Door, alguém está com door
-Não, door quer dizer porta em inglês
-Door. Porta.. a resposta está em alguma porta!
-Valeu capitão óbvio!Solucionamos boa parte do problema!
-Não me esnobe, só quero ajudar... Tem portas no conto da Alice, não tem?
-Tem, tem sim, portas de vários tamanhos, grandes, pequenas, em árvores
-É isso!
-É isso o que?
-Talvez ele queira que a gente procure em alguma árvore
-É uma boa teoria, mas o que teria a irmã da Alice a ver com isso?
-Não faço a menor idéia- eles ficaram pensando em silêncio por um instante enquanto mastigavam seus sanduíches até que por fim, Jorge quebrou o silêncio
- A porta da irmã dela, ué?
-Como?
-A porta da irmã dela, vamos ver se tem algo na porta da irmã da Alice
-Qual irmã, Jorge?A Alice teve várias irmãs, Ina, Edith, Vioet, Rodha..
-Qual delas estava no livro?- May ainda não havia pensado por essa forma, mas parou para se lembrar um pouco
-Ina e Edith, representada como pássaros
-E a irmã mais velha que aparece no ínicio?
-É mesmo.. Alice tinha uma irmã mais velha... Ina... e é justamente na ilustração dela que a pista foi encontrada
-Acho que Carroll estava sendo específico desde o início conosco
-Bem... então temos de ir até a porta da casa... da Ina? E o que ele quer dizer com casamento?
-Isso me dá um pouco de apreensão
-Não a mim, sou uma Cohen
-Isso não quer dizer nada
-Quer dizer mais do que se eu fosse uma qualquer
-O que quer dizer com uma qualquer?
-Agora quer saber o que eu quero dizer quando acabou de dizer que o que eu disse não quer dizer nada?!
-O que eu quero dizer...
-Gente!!!- gritou uma moça do outro lado da mesa- vamos parar de brigar e se concentrar nesse caso!
-Você não está nele- disse May- não está em nenhum
-Não estarei até terminarem essa fase, estarei na próxima, que não acontecerá se vocês não se entenderem e não entenderem as pistas
-Ótimo, então ajuda aí, o que ele quis dizer com isso?- e deu a ela o papel com o recado anotado, ela lê, analisa e depois diz baixinho, mais pra si do que para os outros
-Eu não entendo por que ele escreveu isso
-O que disse?- perguntou May
-Hã? Olha, se eu fosse vocês procurava isso na porta do quarto da Alice
-Aqui em Oxford?
-É, na reitoria, O Martin vai pra lá só ano que vem mesmo
-É uma boa idéia, vamos até lá- e naquela tarde, eles foram até lá, a casa estava vazia, mas bem mobilhada por que estava para alugar, deram um jeito de engabelar a corretora e começaram a vistoriar o ambiente
-Vamos até o quarto dela- e subiram até antes era o quarto infantil
-Peraí, tem uma coisa que eu não entendo, Alice compartilhava o quarto com as irmãs, então o quarto não era só da Irmã dela...- comentou Jorge
-Muito esperto, mas olha atrás da porta- May disse apontando na direção da porta, Jorge se virou e fechou a porta, de uma soprada na poeira pra conferir, havia uma frase atrás da porta escrita em espelho

“E mesmo que a cabeça passasse, não serviria muito sem”
-Sem os ombros- completou May rapidamente
-Engenhoso, mas não
-Não?
-Use o pano- May obedeceu e estendeu o pano sobre a porta, viu o restante da frase
unum autem corpus” -O que você vê?- perguntou Jorge indo atrás do pano que May guardou rapidamente
-Nada- mentiu com um ar de superioridade
-De uma Cohen, isso só pode significar que viu alguma frase em latim com um significado bem profundo... Mas já que não sabe latim..
-Você é bem esperto para quem escolheu vir para a Inglaterra sem saber falar inglês
-Eu não escolhi
-Não?Então como foi?
-Vamos nos concentrar no caso, eu vejo um reflexo nesse espelho, desse ângulo, que talvez seja alguma coisa
-Claro que é alguma coisa, ou não vai ser?- Jorge ignorou o comentário de May, tocou em uma das letra de espelho e se virou na direção contrária, caminhou até o outro canto do quarto e se abaixou, foi dando leve batidinhas num pedaço da parede com o papel rasgado até achar um lugar oco, ele deu um soco, não muito forte e o pedaço de concreto cedeu
-Ótimo, se Martin Roque danifica o manuscrito da Alice, nós danificamos a casa dela
-Isso aqui não foi construído junto com o resto da casa, algo foi emparedado aqui
-Deus nos livre de ser uma mulher com um gato preto
-Miau
-Vê logo o que tem aí!- Jorge enfiou a mão num buraco e tirou... um lenço
-Outro pano!- bufou May
-Espere, tem um bilhete- ele também pegou um pergaminho minúsculo onde estava escrito..

“Enxugue o corvo”


-Limpe o corvo... ótimo, que corvo?- perguntou May
-Será que devemos entrar naquela sala sinistra e procurar algum?
-Devemos evitar ao máximo entrar naquela sala, o Cammppell que disse
-E como vamos saber que corvo?
2/5





-“Qual a semelhança entre um corvo e uma escrivanhia?”
-Nenhuma – respondeu Martin para a surpresa de May e Jorge que não percebeu que ele havia chegado à biblioteca
-Vocês também são fãs de Alice?- perguntou ele finalmente mergulhando os dois num medo terrível
-Não muito...
-Eu odeio Alice!- anunciou Jorge de uma maneira que surpreendeu até May- Eu odeio essa... frase
-A..ta...- saiu Martin de perto, meio sem graça, meio assustado, meio achando aquilo bizarro como alguém não gostar de Alice
-Não precisava ter dito isso, nunca se diz que odeia Alice, ela não te fez absolutamente nada
-Eu precisava afastá-lo
-Fez bem- reapareceu aquela moça do refeitório
-Fez?- perguntou May confusa
-Mas é claro, nada contra o garoto, mas a segunda fase desse caso é tão cabulosa que nem sei se serão revelados os detalhes a vocês ou torno de conhecimento do público somente do ponto de vista investigativo
-Do que está falando, afinal?- perguntou Jorge impaciente
-Assim como o garoto Martin, vocês terão de ter estômago o suficiente para certas ocasiões
-Não estou gostando do seu tom, quer dizer que algumas coisas vão.. ficarem... mais.. mais- Jorge tentava encontrar as palavras certas
-Diga Jorge... O que exatamente você não estaria disposto a aceitar a fazer?- nesse momento Jorge ficou muito nervoso e se levantou batendo as mãos na mesa com força
-Em primeiro lugar, eu gostaria de deixar bem claro que não eu não estou disposto a matar nem ninguém por idéia que seje!!! todo mundo ficou em silêncio olhando para ele com ar de medo e questionamento
-huummmmm antes fosse envolver mortes, mas estou me referindo a coisas que gente como a May faria sem nenhum problema- Jorge ficou muito envergonhado e se sentou querendo desaparecer como a chama de uma vela, seu rosto estava realmente vermelho embora sua pele fosse mais morena e não fosse tão visível
-Me chamou de fanática extremista ou o que?- perguntou May, que não movera um músculo do pescoço para ver Jorge se sentar
-Por Carroll! Não estou falando de mortes ou religião, estou falando de coisas que a maioria das pessoas considera pior que a morte, pense!!! Pior que o homicídio! Pior que tirar a vida de uma pessoa, pior que isso!
-Nada é pior do que tirar a vida de uma criança inocente!- disse May, a moça bateu palmas contente com o comentário da ruiva
-Parabéns Cohen, parabéns!! Agora pense se isso faz sentido o tempo todo na cabeça comum e limitada de alguém qualquer...
-Mas somos relativos o tempo todo...- comentou Jorge pra si mesmo olhando melancolicamente para os pés
- Eu desisto, espero que vocês não tenham que fazer nada que considerem terrível demais para completar a missão e May, eu confio em você, todos nós confiamos e a ética daqui é que nem a da máfia, se alguém trai, outro alguém “ se trai” e eu quero dizer por “se trair” é muita consideração desse último alguém considerar-te parte dele mesmo para chamar isso de autotraição
-Uma curiosidade, quando diz considerar-te parte dele mesmo, se hipoteticamente eu os traísse, quem de mim seria  a parte a ser traída?
-Ora, deve haver, esse seria o único motivo pela qual você nos trairia
-E se eu os traísse por outro motivo?Tipo... Por ser uma mercenária, sendo assim eu não me importaria muito com tal parte minha sendo usada para uma traição
-Aí seria bem chato, por que também teríamos de te matar- colocou o chapéu e estava saindo
-Eu não entendi nada dessa conversa..- suspirou Jorge, a moça voltou
-Jorge
-Sim?
-Só uma curiosidade, se você descobrisse hoje que Lewis Carroll era mesmo pedófilo e teve um caso com a Alice, você ainda continuaria nessa luta do mesmo jeito que entrou?
-Por que, ele é?
-Não responda uma pergunta com outra pergunta- Jorge riu ao pensar antes de dizer
-Devo supor que decidiu me testar depois do meu vexame sobre não ser...- ele ia falar mas escolhei outra palavra- em fim, uma pessoa disposta a tudo
-Está desviando do assunto- ela continuou séria
- Bem, eu não entrei nesse jogo por que pensei que ele fosse inocente, entrei por que...- ele ia falar mas no momento exato mudou de idéia- de qualquer forma, bem poucas coisas me fariam desistir desse plano e essa história não é uma delas- a moça o observou por um longo tempo em silêncio e depois de refletir um tanto concluiu
-Ao contrário do que realmente digo ou se diz após uma resposta dessa natureza nesse específico contexto, tenho que te alertar que você tem tanta probabilidade de abandonar essa missão saindo correndo quanto teria alguém que se importaria muito com a inocência do senhor Dodgson... Infelizmente, a pessoa errada na missão errada, a única forma de chegar até o final e não ter medo e confiar nas suas próprias intenções
-Mas eu gosto muito de Alice, não foi tão por acaso que eu entrei nessa missão
-Sim, nós sabemos exatamente o que te fez querer entrar nessa missão- disse a moça de modo misterioso e bastante sério- Mas é melhor que venha com a gente do que... Você sabe com quem, e não estou falando da liga de vilões unidos contra o País das Maravilhas nem da Rainha de Copas contra o garoto Martin ali- e finalmente saiu
-Estranho... O que ela quis dizer com isso?
-Enigmas... Mais enigmas
-O único motivo aceitável para abandonar a missão seria não ter paciência para enigmas, de resto teríamos de te matar, acho
-Matar, matar, matar! Será que dá para mudar de assunto?
-Você tem deixado cada vez mais evidente que tem algo a esconder
-Não sabia que agora EU era o enigma
-Tudo bem, onde estávamos mesmo? O corvo...
-Eu pensei em algo
-No quê?
-Na hora que eu disse que algo havia sido emparedado você mencionou algo como uma mulher com um gato preto...
-É um conto de Edgar Allan Poe, O Gato Preto
-É isso!!- ele se levantou eufórico tendo descoberto a charada
-É isso o quê?
-Não importa a resposta do enigma do corvo e da escrivanhia, o que Carroll está nos pedindo para fazer é algo bem simples na verdade... Venha comigo!- eles foram até a sala em que descobriram o anel
-Muito bem, agora você vai me falar o que exatamente descobriu
-Lewis Carroll conhecia Allan Poe?- Jorge perguntou
-Eles são contemporâneos, mas eu não tenho certeza- Jorge foi até a escrivanhia e analisou por um tempo
-Me dê o pano que achamos na casa da Alice- May o entregou e Jorge começou a passar o pano na superfície empoeirada da mesa
-Ei!
-Era isso que ele queria que fizéssemos May, enxugue o corvo, enxugue a escrivanhia!

-E qual é o resultado?- perguntou May impaciente, Jorge se aproximou para verificar o resultado, enquanto mais ele enxugava, um desenho começava a aparecer na superfície da mesa... Era uma espécie de mapa.

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